segunda-feira, outubro 10, 2011

Perdida

Poderia procurar-te em mim,
Desejo fugidio que te escondes,
Sem deixar um rasto que seja,
Para além daquele que me corrói,
O vazio de não te ter.

Vontade entusiástica
Que te fechas sobre ti mesma,
Não permites que uma brecha se abra,
E assim não te consigo alcançar.

Aspiração que te calas de tão tímida
Deixas por ti passar a vida
Não entrevejo qualquer passo
Ficas então adormecida num qualquer regaço.

E eu aqui, procurando algo mais,
Vejo-me no final
Sem qualquer movimento autónomo,
Sem qualquer ambição.
Ser consumido e manipulado
Programado para fazer crer

Algo que não sou eu nem me pertence,

Onde não me revejo nem me encontro.

Quem sou eu afinal?

sexta-feira, maio 01, 2009

Desejo-te!!!

Desejo-te ponto. Desejo-te feliz. Olhar para o teu olhar doce, que me transmite calma e ver como ele está vivo, brilha qual luz do luar de verão. ver o teu sorriso encantador que me enche de energia, faz-me sorrir com a mesma inocência de uma criança. Sentir as tuas mãos, firmes, seguras. Desejo-te de todas as formas. Gosto de ver-te timido e, ao mesmo tempo, confiante do que desejas. Invejo a tua forma de ver as coisas, de te veres ao espelho. De ver como te conheces tão bem. É interessante mergulhar no teu mundo e sair de lá com uma mão cheia de grandes emoções. Desejo-te!!!

terça-feira, abril 28, 2009

in-verso

sussurro no quarto fechado
os momentos tenues do pensamento
existente entre nós. vejo-te calado
temo o teu olhar, o teu sentimento

ficas ali. quieto. deitado
fixas-me certo com alento
e com um gesto marcado
meigo suave naquele breve momento

sinto que tudo parou
o tempo, o segundo, o instante
ate o nosso corpo rasgou

procurando algo mais estimulante
que quiz começar. e começou
foi deveras brilhante

sábado, abril 14, 2007

Músculo

Se não te sei
nem rosto, nem mãos,
país pedra
Se não to sei intacto
inviolável corpo.

Se não te sei
sol, cantar um vento,
verbo movimento
Se não to sei sentir
apagar um espelho.

Se não te sei
palavra, concluída em
verso ardente
Se não to sei língua
o palpitante ofício.

Se não te sei
silêncio, oco sonho de
vermelha melancolia
Se não to sei esperando
a voz do mar só.

Se não te sei
nem sílaba, nem vogal,
alma temporal
Se não to sei poema.

Matéria primitiva.



Rui Alberto in Folha Mensal de Poesia Músculo, abril 07. Direcção de Hugo Milhanas Machado

terça-feira, abril 10, 2007

Sessão de Poesia


A Cooperativa Literária promove, juntamente com a editora Sombra do Amor - Edições:

Leitura de poemas de autores da revista Callema e da biblioteca máquinas líricas. Performance musical. Apresentação da Folha de Poesia MÚSCULO.

Quinta-feira, 12 de Abril pelas 16:00h no Bar/Livraria Da Mariquinhas - Rua dos Cordoeiros, porta 8 e 10, ao Largo de Santo Antoninho no bairro da Bica.

sexta-feira, fevereiro 23, 2007

Eu atirava uma pedra

Lo profundo es el aire.
Jorge Guillén


Eu atirava uma pedra e depois tu outra e assim crianças ficávamos
eternamente crianças brincando na água daquele rio Dizem-me hoje
que jamais o azul o verde ou a prata como
os digo quando me perguntam que meninice a tua? e eu
sempre sorrio e sei que também tu sempre sorririas e
lhes digo daquele rio onde aprendíamos e serenamente
aprendíamos sem qualquer ciência a ser meninos
e sabíamos das coisas do amor
o amor em cada seixo redondo e luzidio
fazendo ricochete na água o amor quando rias e sorrias como só as crianças
e troçavas meu amor
quando e sempre me vencias na beleza do arco
e da elipse do seixo na água
o desenho do teu lançamento sempre mais belo do que o meu
a velocidade sempre mais grandiosa e redonda
a música sempre mais fina do que a de meu bruto e desajeitado lançamento
nunca fui um homem de perícias
E eu sorria enfim sorria vendo-te sorrir e troçar e celebrar a vitória e
a tua vitória também minha pois o incomparável gosto de te ouvir dizer
perdeste rapaz voltei a vencer as meninas ganham sempre
e eu sorria ferido talvez no pequeno orgulho de uma idade remota
eu sorria eu sempre sorria eu aprendia então em ti o amor
Gabava-me nesse tempo de teus olhos claros e de teus cabelos negros e
os outros rapazes rindo desse memorável dizer do lirismo nas canelas gastas
andávamos na mesma escola na mesma turma e sentavas-te junto do carlos
e todos os rapazes podiam olhar teus olhos e mesmo tocar teus cabelos
e podiam até roubar-te mais atenção que aquela que me dispensavas
um ou outro dizia-se teu namorado e eu negava
muito seguro muito adulto
todos eles riam quando assim falava de teu cabelo e de teus olhos
e tu ali brincando no recreio
todos eles riam mas eu sabia que apenas comigo jogavas seixos no rio
e era imensa a alegria que aí eu recolhia
Hoje dormes a meu lado e estamos mortos
ambos mortos repara nas pedras
o país que foi o nosso todos os dias mais longe
todos os dias morrendo mais um pouco e
já pouco poderemos fazer meu amor
resta-nos esta cama em que dormimos
e onde também as crianças vêm sempre acabar por adormecer
Temos pão e leite sobre a mesa
e tudo isso é suficiente

Eu atirava uma pedra e depois tu outra e
assim ficávamos esperando
e ainda por cá andamos e todos os dias velo um pouco mais
os teus olhos claros e os teus cabelos
talvez já menos negros
Estamos mortos, meu amor, estamos mortos
e assim juntos envelheceremos
com as crianças.
HMM

sexta-feira, janeiro 12, 2007

Poesis à tona regressada

Por que caminhos enveredeis
d'entre as várias cores da brisa
que em cada recanto encontreis
o que tanto nos escapa à vista?

Por que degraus desceis
para subires à fonte da vida?
Ou tão só guiado pelo pranto dilacerado
do que escuteis vindo das profundezas?