terça-feira, julho 18, 2006

Palavras Proibidas


As palavras percorrem o sonho pelas veias da alma, e morrem na garganta. O desejo é abafado pela sombra da vontade que não pode acordar. Ela quer correr os mundos mas além-eu não há quem se interesse por tamanha imensidão individual. Tudo o que é grandioso e que seja de um só torna-se tão mínimo que mais valia nem sequer existir. Mas a sua presença transforma-se rapidamente em palavras proibidas que morrem tal como surgem. E nunca são expressas. E morrem sem serem conhecidas. E a vontade adormece. E eu vou morrendo, porque os meus desejos têm de ser só meus, e porque não quererás que eles sejam teus?

Quero pronunciar ao mundo todo o meu tormento. Quem sabe se daqui não se retiraria uma matéria de investigação? Quem sabe não reencarnou em mim um grande trovador? Mas não. As palavras são proibidas e eu digo-as apenas ao teu ouvido, se é que queres ouvi-las.

Talvez por telepatia alguém as receba, tanto em constante ebulição que elas permanecem todo o sempre. E são cada vez mais. E batem com mais força. O seu desespero atormenta-me a boca e quero abri-la na esperança que elas consigam fugir desta prisão que é o moralmente correcto. Mas elas não têm força suficiente ainda. Talvez se esperar mais um pouco.

Até lá vou acumulando palavras proibidas, na mente, na garganta e na boca. É como um novelo de lã que vai crescendo e enchendo a minha alma, de tantas promessas que faço a mim mesma e que não consigo cumprir. Quando não houver mais espaço, as palavras fugirão de mim num grito tão estridente que chegará além-universo e aí, não serão mais as palavras fugidias que serão proibidas. Quando elas, desesperadamente, se atropelarem umas às outras, na ânsia de se sentirem vivas e expressas, serei eu a proibida, e isolar-me-ão do mundo. Não devia tê-lo feito. Eles não gostam de pessoas que os desafiam.

Tudo porque um dia falei.

Diana Calado