quarta-feira, março 15, 2006

(a partir de omoplata de mulher)

Sentada na luzidia primeira prata entre a areia e o mar
os adormecidos olhos o rosto abraçando a fresca música do sol caindo
a poente Estás sentada como quem sempre aguarda a
azulínea mão das eternas e iniciantes noites de um mundo outro
O corpo abandonadamente azul lua o corpo nocturno o embrionário olhar
já das impossíveis cores da nossa idade Os inomináveis
acordes que nos conduzem a uma praia como esta e
nos fazem esperar esperar
esperar a mágica metamorfose inaugurada pelo alado gesto de Eva
no quimérico e silente mover dos ombros Então ganhas asas e
como no poema de Eugénio partes com as aves.

(inédito, 2005)