terça-feira, outubro 24, 2006

«O desconhecido não esmaga o vazio.»
E. Jabès

Se a tua face está em toda
a criação celeste do mundo
sob que espaço do humano te ergues?
No pensamento.

Serás a obra, a cor, o pigmento,
ou o espaço vazio da entrelinha,
o silêncio?
O deslumbramento.

Se és o divino, luz que
cada ideia encerra (abre)
em que parte do negro habitas?
O príncipio, o fim, ou o meio?

(Nada revelas que não interrogues,
serás tu a questão?)

O Ser no Não-Ser, o caos, o nada.

O que haverá depois de ti, antes de ti,
para além de ti?
Quem és em mim?

segunda-feira, outubro 23, 2006

Em posição posterior

Now that we've chosen to take all we can
This shade of autumn, a stale bitter end
Years of frustration lay down side by side
Portishead

I know the bottom, she says. I know it with my great tap root:
It is what you fear.
I do not fear. I have been there.
Sylvia Plath

Agora esperei por ti décadas, séculos, todo um milénio
mas amanhã, se o dia se fragmentar como em mim,
tu já não serás o corpo que me deu oxigénio
e eu não voltarei a escrever um poema assim.
Hélder Moura Pereira




como na canção a colocação da voz
melodia penetrante timbre quente sabor forte
poderia ser amargo ou poderia ser ácido ou poderia ser outono
é Outono pela primeira vez

escolho.
só tu poderias mudar a minha escolha
já o sabes como sabias mesmo antes de nós acontecermos
na passagem das estações
do metro e do tempo

em fuga.
quero o teu corpo todo em mim
tantas vezes quanto o corpo nos permitir
e adormecer depois com o cansaço quente como almofada
de seda e prazer

unico.
depois da alucinação a frustração da espera
e este o ultimo poema que escrevo para ti?
ou o primeiro momento na longa queda deste outono oxigenado?
toma conta de mim este som sangue sinal

de perigo.
Only You

M. Tiago Paixão 2006