terça-feira, junho 27, 2006

Querendo-te... Só hoje!

Imagino o teu cheiro
Só mais uma noite,
Não uma mais,
Só hoje.

Sê como Blimunda
Recolhe-me a vontade
De te ter por perto.
Nenhuma palavra pronunciada
Apenas um olhar intenso
Que nos guia, consome
E por fim sacia.

Torna-te assírio
meu Rei.
E sonha desenfreadamente,
Talvez o nosso êxtase
Só mais uma noite,
Não uma mais,
Apenas hoje.

Querendo-te comigo
Oiço-te, vejo-te, cheiro-te
E desespero.
Porque aqui não estás.
Sou como Anteu:
Mas é em ti que encontro forças,
Porque me tornaste um reflexo de ti,
E se te ignoras
Eu morro.
Porque se te ignorares,
Não és ninguém.
E aí, eu deixo de fazer sentido.

E se te procuro e tu não estás
Que será de mim?
Condenada ao sofrimento
Como um triste Orfeu.
Mas uma última noite
Não uma mais,
Só hoje!

Desejo sonhado,
Vontade recolhida,
Corpo saciado.

Diana Calado

sexta-feira, junho 23, 2006

NOVOS ESCRITORES - O NOVO RUMO DA LITERATURA (nova data)

Realizar-se-á no próximo dia 8 de Julho a CONVERSA - MESA REDONDA - NOVOS ESCRITORES - O NOVO RUMO DA LITERATURA, com Hugo Milhanas Machado, Maria Rocha, M. Tiago Paixão e João Silveira. A sessão será moderada por Rui Alberto.
8 DE JULHO - SÁBADO - 16H, na Galeria Mixsoul, Damaia.

www.respigarte.blogspot.com

carta de Amadis a Oriana

nem sempre meu amor nem sempre este mar
esteve morto foi nele concebida a vida que me
conheces nele dormiu o filho de Periom e Elisena
o maior cavaleiro amante com o qual teus dias
meu amor teus dias conheceram paixão o sacrilégio
de lágrimas do amor que outro rei um dia viveu
uma lenda como a nossa sem no entanto ter
a demanda de te possuir a ti só a ti meu amor

um dia meu amor um dia contarão a aventura de Amadis
e nosso reino será sagrado como o cálice dos deuses onde
sei estar a chave dos amantes deste e outros mitos

p.s. - a repetição doentia da palavra amor é propositada
pois é dela que eu Amadis me fiz herói


Rui Alberto, 2006

sábado, junho 17, 2006

O Muro

Desejo anseio quero
momentos egoistas colados à pele
fel que nos impede de ser livres

Escrevem-se livros... nenhum
oferece o poder de liberdade
caridade do ser que não cresce

Ouve-se atrás do muro
gritos desespero dor
rancor que dá à luz a ira

Observam-se rios de sangue
pedaços de carne nos buracos da fronteira
barreira de amor felicidade sonho

terça-feira, junho 06, 2006

In Memoriam

à memória de
Sophia de Mello Breyner Andresen
Contemplemos o eterno
líquido, fogoso, térreo e ventoso
que habita nessa essência
de alma de luz infinita.

Escutemos nesse horizonte
o som límpido da musa eloquente
que apele ao ressurgimento total
da verdade harmoniosa e real.

E em nós escorres
como onda que banha
e se espraia na areia
para regressares mais pura ao mar
apagando os traços daqueles
que algum dia nesse caminho
pensaram voltar atrás.

sábado, junho 03, 2006

poema final

fizeste-me azul um movimento do mar
transportando em verso cada som um corpo
imperceptivel flutuando teu nome esquecido
explodindo na boca solar onde o fogo nasce
em cada manhã acordo sobre a impossibilidade
da voz que grite o desespero da cidade

e adormecemos na noite com o corpo sobre
o desejo marítimo da queda como ascenção


Rui Alberto, 2006