sábado, maio 20, 2006

demissão

-
absoluto silêncio é a falta
o espaço em branco
a página vazia
a carga que se converte em penalidade
tanta falta que me fazes nesta noite
e em todas as pausas que não chegam a ser
absoluto
perfeito
silêncio ou o suicídio do som
(o homem que pede: levanta-te e anda)
sozinho com uma caneta e a mão
imaginada em todos os livros por escrever
onde cabe apenas a pausa ausente
sentida
(o homem que diz: levanta-te e anda)
num movimento mimético
único e final
e afinal tudo não é mais do que tu
e a falta que me fazes nesta noite
onde estou em falta e em silêncio
(levanto-me e caio no vazio)
enquanto penso e perdi a minha palavra favorita
que nunca ganhei
.

M. Tiago Paixão (2006)

no jardim da estrela

por detrás da sabedoria da grande árvore
esconde-se a ramificação dos amantes
e na minha pele sinto a tua ausência
personificada na hipérbole do desejo.


Rui Alberto, 2006

sexta-feira, maio 19, 2006

LANÇAMENTO DE POEMA EM FORMA DE NUVEM NA FACULDADE DE LETRAS

poema em forma de nuvem, de hugo milhanas machado, será apresentado no Bar da Biblioteca da Faculdade de Letras (Universidade de Lisboa, Cidade Universitária), dia 31 de Maio, pelas 18:00. A sessão, que contará com uma instalação de fotografia de Sophia Pereira, será apresentada por Rui Zink. Como leitor de serviço, Rui Alberto.

segunda-feira, maio 15, 2006

(a fotografia de gilbert grassaï)

ela dançava ela dizia o corpo e matisse
sentado matisse trabalhando o duplo
dessa dança e desse dizer


a anca, a anca no papel
o seio, a mão, o seio e a mão no papel


assim erguiam a sua comunicação a sua
silenciosa comunicação, pacto de movimento,
partilha, entrega


e era tudo. depois, eu.

eu observava. ela dançando, matisse sentado
diante de si
eu era a terceira pessoa


podia também ser a primeira ou, claro,
a única. é tudo uma questão de perspectiva.


ali, naquela sala
éramos três seres exibindo a sua forma de estar vivo.
uma feita de dança
uma feita de dança e papel
e a outra, a minha,
feita apenas de luz.


(inédito, 2006)

sexta-feira, maio 05, 2006

a uma Voz

Ser em mim
sem em mim o ser.
apenas no desdobrar
da palavra muda
que ecoa nas cilindricas
arestas do inesperado.

Serás sempre a hipótese
do vazio eterno
na lânguida voz
dos silêncios esculpidos.